PRODUÇÃO CIENTÍFICA: ARTIGOS

Ago/2009Carcinoma de células transicionais primário de próstata com metástase para glande peniana – Relato de Caso

Mirandolino B. Mariano, Marcos V. Tefilli, Pedro Romanelli

Hospital Moinhos de Vento, Porto Alegre, Brasil

Key words: prostate, transitional cell carcinoma, penile metastasis
Resumo


Neoplasias metastáticas para o pênis são raras, sendo o tumor primário mais comumente relatado no trato gênito-urinário ou gastro-intestinal. Aproximadamente 100 casos de metástases penianas de origem prostática têm sido relatados na literatura, mas somente um a partir de carcinoma de células transicionais (TCC) primário de próstata. Os autores descrevem um caso de TCC primário de próstata com metástases na glande peniana como apresentação inicial.




Introdução

Metástases para o pênis são raras, apesar do complexo e rico sistema circulatório deste órgão. Mais comumente o sítio primário é próstata, bexiga ou reto, sendo enduração e edema locais os sintomas mais freqüentes. É uma condição debilitante e grave, que geralmente acomete pacientes com doença avançada, com mortalidade superior a 70% em seis meses do diagnóstico.1-3
Carcinoma de células transicionais (TCC) primário de próstata é uma entidade distinta que tem sido reconhecido com freqüência crescente, respondendo por 1 a 4% das neoplasias prostáticas.1,3 O objetivo deste relato é descrever um caso de TCC primário de próstata cuja manifestação inicial foi uma metástase para a glande peniana.




Relato do caso

Paciente masculino de 47 anos vem à consulta com queixa de lesão na glande peniana com progressão nas últimas três semanas (figura 1). Queixava-se também de redução da força do jato urinário. Ao exame constatou-se lesão peniana endurecida e indolor e toque retal com próstata nodular e pétrea.
Realizou-se então biópsia transretal de próstata e biópsia incisional da lesão na glande peniana. O exame anátomo-patológico revelou tratar-se de CCT de próstata e metástase para a glande peniana (fig. 2 e 3). A avaliação metastática foi negativa e constou de cintilografia óssea de corpo inteiro e tomografias computadorizadas de abdômen e tórax. Realizou-se RTU de próstata para alívio dos sintomas obstrutivos e biópsias vesicais múltiplas que foram negativas para neoplasia. O material da RTU confirmou o achado da biópsia de TCC. A avaliação imunohistoquímica complementou o diagnóstico sendo negativo para PSA e fortemente positivo para marcadores de células transicionais, incluindo CK7, CK alto peso e 34bE12. O tratamento complementar constou de quimioterapia sistêmica e expectante em relação à metástase glandar.




Comentários

O acometimento metastático peniano a partir da próstata se dá por vários mecanismos, sendo a via venosa retrógrada e invasão direta os mais freqüentes.1 O TCC primário de próstata responde por 1 a 4% de todos os carcinomas prostáticos, e em 20% dos casos a apresentação inicial é como doença metastática, mais comumente para ossos, pulmões e fígado.2-3 Metastatização deste tipo de tumor para o pênis parece ser rara, tendo sido relatado apenas uma vez na literatura.2
A distinção histológica entre carcinoma de células transicionais indiferenciado e adenocarcinoma de próstata de alto grau de Gleason pode ser difícil alguma vezes, especialmente se há invasão do colo vesical.3 Em nosso caso, não havia nenhuma evidência de neoplasia vesical ao exame cistoscópico e as biópsias de bexiga não revelaram alterações. A origem do TCC primário de próstata é nas glândulas peri-uretrais da próstata que são revestidas por epitélio transicional, não sendo associado a carcinoma vesical.3
Não há terapêutica padrão para metástases penianas e várias abordagens têm sido relatadas com resultados variáveis, porém com prognóstico uniformemente reservado.1-2 O tratamento deverá ser individualizado dependendo das condições gerais do paciente, sintomatologia, sítio e extensão da lesão peniana e grau de doença metastática. O consenso parece ser que se enfatize medidas paliativas, preservação peniana e qualidade de vida em vista do prognóstico pobre com mortalidade de até 80% em seis meses.1,2 Excisões locais ou penectomias são opções terapêuticas mas somente para pacientes com complicações locais graves, especialmente sangramentos recidivantes e dor intratável.





Referências

1. Osther Pj, Lontoft E: Metastasis to the pênis. Case reports and review of the literature. Int Urol Nephrol, 23(2):161-7, 1991.
2. Rodrigues Netto Jr N, Claro JFA, Saldanha LB: Transitional cell carcinoma of the prostate metastatic to the penis as cause of priapism. Arch Esp Urol, 43(3):321-2, 1990.
3. Cheville JCC, Dundore PA, Bostwick DG, et al: Transitional cell carcinoma of the prostate: clinicopathologic study of 50 cases. Cancer, 82(4):703-7, 1999.






Figura 1. Apresentação inicial do caso com metástase na glande peniana.









Figura 2. Microfotografia mostrando arquitetura histológica da biópsia prostática. HE 250X. (Carcinoma urotelial de alto grau com invasão do estroma prostático)









Figura 3. Microfotografia mostrando aspecto da biópsia da metástase da glande peniana. HE 250X.( carcinoma urotelial de alto grau com extensa invasão vascular)








Resposta aos comentários dos revisores –

1) É preciso descrever os achados anatomopatológicos de HE que justificam o diagnóstico de carcinoma urotelial.
Incluímos descrição sumária dos achados histológicos já que há limite quanto a número de palavras em relatos de caso e, apesar de reconhecermos a importância dos achados histológicos, gostaríamos de dar ênfase na conduta clínica do caso. A descrição foi adicionada na legenda da figura – 2.
******
2) Estudo imunohistoquímico que apóia o diagnóstico
Foi realizado estudo imunohistoquímico que confirmou os achados da HE em relação ao diagnóstico tanto no material de ressecção prostática, quanto na biópsia da metástase peniana. Para tal encontramos PSA negativo/ CK7 positivo e 34bE12 positivo conforme solicitado. A seguinte frase foi introduzida no texto, secção relato de caso, para preencher os requisitos solicitados acima.

“ A avaliação imunohistoquímica complementou o diagnóstico sendo negativo para PSA e fortemente positivo para marcadores de células transicionais, incluindo CK7, CK alto peso e 34bE12. “
















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